terça-feira, 12 de julho de 2011

Carmim - Parte I



Ela tinha as unhas pintadas de vermelho vivo, como as garras do diabo, que naquele momento combinava com perfeição com sua expressão pálida, fria e fixa.
Era visível que ela estava destruída por dentro, consumira altas doses de álcool em absoluto silêncio naquela noite..a boate estava abarrotada de jovens sedentos por alguma aventura sexual, era perceptível a agitação dos hormônios. Ela por outro lado, encarava quase sem sutileza alguma, um certo rapaz do lado oposto ao seu..ele estava cercado de amigos e mulheres e sorria efusivamente, era evidente que aquele era um lugar onde ele se sentia de fato à vontade..por um segundo que ela quase pensou ter imaginado, ele a tinha olhado de soslaio, ainda com os olhos fixos nele deu outro longo gole em seu Martini tentando absorver toda aquela situação..Discretamente, de maneira quase imperceptível, um jovem alto, bonito, bem vestido e bastante descontraído se aproximou, acompanhando o olhar dela com curiosidade, compreendendo então a razão de tantos drinks seguidos pedidos por ela ao garçom. Se colocando entre ela e sua momentânea fixação, sorriu tomando sua mão convidando-a para uma dança. Ela, ignorou-o por alguns segundos aparentemente absorta em algum de seus muitos pensamentos naquele momento, ele beijou sua mão com suavidade trazendo-a de volta ao lugar onde ela supostamente deveria estar. Ela fitou os olhos do jovem com intensidade se perguntando se não seria outro de seus muitos momentos de total estupidez. Concluindo que não havia nada mais para ser perdido naquela noite, pousou suavemente sua taça sob a mesa, e Fez o que sabia fazer melhor... fingir. Estampou um encantador sorriso em seus lábios cor de carmim e flutuou nos braços do desconhecido.
Era impossível contar naquele momento em quantos pedaços seu coração se partira na noite passada. Ela acordara ofegante, mais uma vez vítima de seus pesadelos, mas a realidade que a aguardava não seria muito melhor do que a sua seleta coleção de peças pregadas pelo seu subconsciente .
Laura se sentou na beira da cama com o rosto entre suas mãos, sentia o sol lamber seu corpo, fazendo o suor escorrer por suas costas e entre seus seios. Seus pulsos recém cicatrizados, latejavam como um lembrete de uma de suas muitas crises existenciais . Ela sabia que no mundo existiam problemas maiores que os seus, pessoas em maiores dificuldades, mas a desgraça alheia nunca lhe serviu de consolo. Laura juntou toda coragem que conseguiu reunir e pôs-se de pé. Foi em direção ao banheiro, mal conseguindo se encarar no espelho iniciou seu ritual matinal, enquanto escovava seus dentes lutava bravamente pra manter sua mente completamente vazia.

É difícil esperar...esperar o telefone tocar, esperar tudo melhorar, é ela -a espera- que faz tudo se tornar pior, aumenta a agônia, a expectativa e consequentemente a dúvida.
Laura percorrera sua agenda telefônica duas vezes em busca de alguém que pudesse distraí-la, inutilmente.
Eram quase 11 horas da manhã de sábado, Laura vítima de mais uma noite de bebedeira sentia sua cabeça doer irritantemente...desceu as escadas e a julgar pelo silêncio absoluto da casa, ela estava sozinha. Se não fosse por sua cabeça pulsando, ela sorriria diante deste fato...Foi até o armário onde sabia que encontraria a solução para este efeito colateral da noite anterior, um poderoso analgésico. O telefone toca e Laura se sobressalta, sua mão avisa que ela terá que se virar com o almoço pois cobrirá o plantão de uma médica vítima de intoxicação alimentar. De todo modo, ela não sentia fome, Laura tomou seu banho e ligou seu computador contemplando o teto do quarto enquanto este inicializava. Checou seu e-mail na esperança de que talvez "Ele" a procurasse, mas nada havia, assim como não havia nenhuma nova mensagem dele em seu celular, o mau humor era agora quase uma constante....


CONTINUA

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